Certamente não é o meu melhor momento na Cozinha da Marcia, comprometida e preocupada que sou com comida fresca e segurança alimentar. Mas, estou no litoral em São Paulo, e infelizmente os supermercados aqui tem um problema crônico: costumam vender tomates ruins. Muito verdes, muito machucados e muito podres. Pilhas deles nesse estado.
A mesma observação vale para as cenouras que eu chamo de genéricas – e aí a culpa não é só dos compradores dos supermercados do litoral – em geral o produto oferecido é sem graça, compram pilhas e pilhas de cenouras que são de tipos diferentes – portanto o sabor e o teor de açúcar varia entre cada tipo – é fácil identificá-las uma vez que algumas pontudas, outras redondas, umas mais gorduchas e outras longilíneas. Tudo em nome do preço baixo. Eu tenho muitas dúvidas se preço baixo e sobras de cenouras lascadas com as escavadeiras são a mesma coisa.
Bom, não tinha tomate. Tinha uma lata de tomates pelados, que nem tão perfeitos estavam – dois deles menos maduros e um deles com a casca, portanto vestido. Felizmente em melhor estado que a pilha de tomates no balcão de legumes e verduras. E, tinha uma prateleira bem boa de vinhos. Peguei um bom branco seco português, nem tão barato, afinal para cozinhar… nem deu tão certo na panela – ficou muito melhor no copo. Comprei um molho de salsa e cebolinha e com uma cebola, o vinho e sal e um pouco de azeite preparei o molho da foto.
Ficou muito ácido – os dois tomates nem tão maduros apareceram em cheio e precisei corrigir seu travo na língua. Acrescentei um pouco mais de sal e uma colher de sopa de açúcar mascavo, o que equilibrou o sabor e com a evaporação ainda ajudou a deixar o molho um pouco mais denso. E aí dei um salto mortal – o que não fazia desde pequena – coloquei o macarrão parcialmente cozido no molho. Ele acabou de cozinhar absorvendo quase todo o molho. Ficou delicioso, mas foi no truque. #dalata de tomates
Para quem não sabe o que é #dalata: a expressão refere-se a um descarregamento de milhares de latas de maconha prensada no mar, em 1988. As praias do litoral sudeste amanheceram cheias de latas prateadas – parecidas com essas usadas para molho de tomate que, uma vez abertas, estavam cheias de maconha. O verão de 1988 foi um ano de boas surpresas. Foi o ano que meu filho nasceu.