A chuva acaba com mais do que vidas

por Cozinha da Márcia

Eu cresci no bairro da Posse, em Teresópolis, juntinho do rio Paquequer, da Cascata do Imbuí, junto com a Lane, a Monica, o Landinho, a D. Sissi e o seu Sebastião, a Lívia, a meninas Sá Erp, a D. Augusta que nos fazia rezar a Ave Maria das seis da tarde ajoelhadas de frente para o Rádio. No riacho que passava no fundo da casa ficávamos horas matando tempo e aprendíamos a arear as panelas, isso mesmo, passava-se areia nas panelas até ficarem brilhando. Olhávamos peixinhos e os mosquitos boiando na água.

Era para lá que íamos todos os verões, na casa da D. Sissi e na granja de um senhor italiano. Os meus pais e seus amigos. E é da casa da D. Sissi com o seu fogão de lenha que tenho as minhas primeiras memórias culinárias. E que memórias lindas, para quem cozinha é claro – como bater o ovo para pão de ló, como fritar batatas cortadas bem finas na banha, como cozinhar o arroz no ponto e como não se deve deixar o fogão de lenha esfriar. Esse era preto e enorme. Gostava tanto que instalei um pequeno na minha cozinha no Rio. Não funcionava, servia de armário, mas deixava entrever um futuro como cozinheira.

Mais tarde, já morava no Ingá, íamos de Teresópolis para Itaipava e Petropólis por uma das estradas mais bonitas do mundo. Ali, em determinado momento, a paisagem se transforma em uma visão infinita de montanhas até as últimas ficarem azuis e se fundirem com o céu. O caminho termina no vale do Cuiabá, e nós, vindos de Teresópolis, não cansávamos de olhar aquela paisagem bucólica com cavalos pastando.

Pois é, sumiu tudo. E as imagens que eu tenho na minha memória estão agora guardadas junto com a tristeza por tantas mortes.

Dizem que quando estamos tristes devemos comer uma coisinha para alegrar o coração. Coloco a seguir algumas receitas da minha infância.

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