A força das mulheres de Cabinda no Brasil aparece muito claramente na cerâmica brasileira. A cidade de Cabinda, localizada em Angola, é um dos portos por onde os portugueses transportaram um grande número de africanos escravizados para o Brasil. No primeiro momento da colonização portuguesa, os comerciantes traziam principalmente africanos capturados nas atuais República do Congo e na República Democrática do Congo. Isso quer dizer que nos primeiros 250 anos de colonização portuguesa a maioria dos escravos eram oriundos dessa região centro-africana. E que, portanto, a sua influência cultural preponderava sobre os demais grupos de outras etnias.
No século XVIII começaram a chegar, em um número maior, os africanos escravizados no noroeste da África, vindos da região dos países em torno do do Golfo do Benin. Eles eram na sua maioria da etnia Ioruba, que até hoje compõe o maior grupo cultural desses países. Portanto, a memória dessa origem congolesa aparece na cultura brasileira de um modo transformado devido, sobretudo, à diferentes interações com outros grupos étnicos tanto com europeus quanto com outros africanos, e também com os povos originários do Brasil. Ficaram na cerâmica, porém também introduziram um número grande palavras em bantu na língua brasileira, aleem de terem criado uma tradição religiosa.
A influência dessas mulheres
Um exemplo importante da cultura dessas mulheres de Cabinda por aqui é parte da cerâmica brasileira que se concretiza na tradição de mulheres artesãs e artistas. Grande parte dessas peças contam uma história. Essa arte, embora eminentemente parte de uma forma de expressão local, também é uma maneira de transmitirem a sua ancestralidade africana, ainda que distante. As artesãs mais conhecidas estão no Nordeste, e no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. No Sudeste, tivemoss as paneleiras no litoral Norte de São Paulo, e que hoje é uma arte hoje extinta. Temos ainda as panelas pretas de barro feitas no Espírito Santo.
As tampas das panelas das mulheres de Cabinda
As tampas das panelas de cerâmica mostradas nessa página do Food Museum eram feitas pelas mulheres de Cabinda, na África. Elas são extraordinárias por que tem uma função muito importante. Como funciona: as figuras na parte de cima são denúncias de maus-tratos contra essas mulheres e seus filhos. As mulheres são responsáveis por levar comida ao campo onde, além de seus maridos, trabalham membros de suas famílias. E, as formas das esculturas que funcionam como puxadores das tampas das panelas são uma oportunidade para denunciarem como estão sendo tratadas por seus maridos. É um pedido de ajuda, como podem ver na imagem que destaquei. Em uma das tampas, à esquerda, pode se ver uma pessoa deitada, ou doente ou morta. E, na outra tampa, uma figura cabisbaixa avisa que algo não vai bem.
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© As imagens dessa página são do Food Museum, um site holandês criado pela artista e escritora Linda Roodenburg.
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